Crítica – The Offer
“Vou fazer uma proposta que ele não pode recusar”. Assim como a icônica frase de Don Corleone em O Poderoso Chefão, o nome da série The Offer (disponível no streaming da Paramount) já entrega do que se trata os 10 episódios. Confira abaixo a crítica de The Offer Temporada 1.
CUIDADO! SPOILERS DE THE OFFER
Se você é amante da Sétima Arte com certeza já viu, pelo menos uma vez, a obra-prima O Poderoso Chefão. O filme sobre a Família Corleone chegou aos cinemas estadunidenses em 15 de março de 1972. Ou seja, o clássico dirigido por Francis Ford Coppola completa 50 anos. No Brasil a película estreou em 7 de julho do mesmo ano.
Em comemoração ao longa, a Paramount Pictures realizou a série The Offer onde narra as desventuras da equipe de produção liderada por Albert S. Ruddy (Miles Teller) para levar o livro homônimo escrito por Mario Puzo (Patrick Gallo) aos cinemas. Bettye McCartt (Juno Temple), a fiel secretária de Ruddy, está sempre ao seu lado e teve papel importante no desenvolvimento do filme!
Um filme sobre a Máfia
A grande sacada em The Offer é a representação da dualidade “Máfia/Família” que tanto assolou os ítalo-americanos durante décadas. Não por acaso a história da produção do filme se confunde com mafiosos reais como Joe Colombo (Giovanni Ribisi). Respeitado e temido, o chefe da Família Colombo (umas das famosas Cinco Famílias da Máfia Americana) a princípio, faz de tudo para o filme não acontecer por achar que seria mais uma obra que degradaria a imagem já desgastada dos italianos e seus descendentes. Com ninguém menos do que Frank Sinatra (Frank John Hughes) como aliado, Colombo até consegue travar o filme. Mas então entra em cena o produtor Albert Ruddy. Com lábia digna dos melhores mafiosos e uma visão única sobre o mundo cinematográfico, Ruddy entende logo de cara que precisa ter Joe ao seu lado.
Parece clichê, mas é verdade. A máfia italiana realmente tinha sindicatos, policiais e políticos em seus bolsos. Por isso, para conseguir realizar as gravações em Nova York, Ruddy precisava literalmente da benção de Colombo! Mario Puzo estava certo, afinal das contas!
A visão do diretor
Francis Ford Coppola (Dan Fogler) não foi a primeira escolha da Paramount. O aclamado diretor Sergio Leone era o favorito. Porém, Leone recusou a proposta para trabalhar em Era Uma Vez na América. Coppola então é chamado apenas para ajudar Mario Puzo a roteirizar o seu romance. Porém, o cineasta só aceita o pedido com a condição de também dirigir o filme.
Com uma visão única sobre a história de Mario Puzo, Coppola não quer fazer mais um filme sobre a Máfia. Na verdade o livro cita a palavra “máfia” somente uma vez. Para satisfazer as vontades de Colombo (e assim poder rodar seu filme), o roteiro cortou todas as referências aos gângsteres transformando o filme numa história sobre uma família ítalo-americana que trabalhou duro na retomada dos Estados Unidos após a 2ª Guerra Mundial. A famosa superação da terra das oportunidades.
Para entregar um “filme verdadeiro”, Coppola faz questão de trabalhar com atores de famílias italianas. Don Corleone, de acordo com Mario Puzo, foi criado para ser vivido por Marlon Brando (Justin Chambers). O ainda desconhecido Al Pacino (Anthony Ippolito) foi uma exigência de Coppola desde o início. Porém, os donos da Paramount só se convenceram da escolha após verem a famosa cena do restaurante onde Michael Corleone tem a difícil decisão de matar dois mafiosos para finalmente tomar o seu lugar na família. E que família.
A união dos Corleone ficou lindamente retratada durante uma reunião de elenco onde os atores, ao lado de Ruddy e Coppola, fazem um jantar já dentro de seus personagens. Justin Chambers como Marlon Brando e Anthony Ippolito como seu filho Michael, dão o tom da cena e realmente entregam tudo o que se espera de personagens tão icônicos.
Luz, câmera, ação
Como já dito, Coppola tem uma visão única sobre a vida de Michael Corleone, e para honrar os seus objetivos, o diretor bate o pé mais uma vez exigindo que as tomadas de Michael na Sicília sejam gravadas realmente na região italiana. Com pouco dinheiro sobrando e já finalizando as filmagens em Nova York, Buddy, mais uma vez, se vê envolvido com a família Colombo.
Joe, que neste ponto sofreu um atentado (tal qual Vito Corleone), está fora do jogo e não pode mais ajudar Buddy. Joe Gallo (Joseph Russo) responsável por “aposentar” o seu rival, vê a chance de ganhar um bom dinheiro ameaçando Buddy. Mas novamente a família Colombo toma as rédeas da situação, matam Gallo e deixam o caminho livre para elenco e produção irem filmar na Sicília.
Após muitos bastidores dentro da Paramount e discussões com a equipe de marketing para definir o tamanho do filme e toda a publicidade, finalmente O Poderoso Chefão fica pronto para o lançamento. Mas antes de ser entregue ao público, Buddy cumpre uma promessa feita a Joe Colombo e realiza uma sessão privada para as famílias mafiosas em Nova York mostrando o poder que eles tiveram na concepção do filme.
Todas as pedras no caminho de Ruddy, Coppola e companhia se mostraram pequenas com a estreia do filme. O Poderoso Chefão recebeu 11 indicações ao Oscar e levou três prêmios: Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado. O longa recebeu sinal verde para a Parte II, que estreou dois anos após o primeiro filme, em 1974. Robert De Niro se juntou ao elenco para interpretar um jovem Vito Corleone e sua chegada à América. Mas isso é uma história para outra ocasião.