Crítica: Os Anéis de Poder – Primeira Temporada
“Nada é mau no começo”. Essa simples, porém poderosa frase, dita no início da série O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, deixa no ar a principal dúvida da temporada: Cadê o Sauron? Ao longo de oito maravilhosos episódios, a série mais cara da história monta o palco para a chegada do Senhor do Escuro, deixando todas as respostas para o último capítulo.
ATENÇÃO – SPOILERS À FRENTE
Antes de ler a crítica completa abaixo, sugiro clicar aqui para entender quais eram as minhas expectativas quando a série estreou! Leu? Agora vamos ao que interessa!
Tolkien vive
Começo pedindo desculpas aos fãs mais xiitas do Professor Tolkien, mas a série idealizada por J.D. Payne e Patrick McKay tem tudo o que fez das obras do autor sulafricano serem o que elas são. Os temas propostos por Tolkien em suas obras da Terra-Média estão todos lá. Amizade, companheirismo, superação nos momentos mais difíceis, acreditar na bondade mas temer a maldade! O tom da série é assim do começo ao fim!
Entendo quem reclama dos personagens criados especificamente para essa obra (eu mesmo odeio o Theo) e da cronologia meio bagunçada, mas isso de maneira alguma atrapalha o desenrolar dos fatos. Também concordo que o roteiro, às vezes, falha. Muitas escolhas são duvidosas (como quando a chave para a destruição das Terras do Sul passa pelas mãos de todo mundo mas ninguém se dá ao trabalho de verificar se é ela mesma), e fazem o andamento de determinados episódios soar estranho. Mas, de novo, não afeta a experiência!
Desde os Pé-peludos, passando pelos anões na maravilhosa Khazad-dum, aos elfos de Eregion e os humanos em Númenor, a Terra-Média da 2ª Era está perfeitamente adaptada. E digo mais, não é apenas a chama de Tolkien que se mantém acesa. A trilogia dirigida por Peter Jackson dá as caras a todo momento deixando a dúvida se a série não poderia fazer parte do mesmo universo.
Sauron ou Gandalf?
Como dito no início do texto, a grande pergunta da temporada é sobre o paradeiro de Sauron. Ao final da 1ª Era, o servo mais poderoso de Morgoth é repelido pelas forças dos elfos e homens e é acossado pelos recantos mais distantes da Terra-Média! Mas então, na 2ª Era ele volta com tudo e é o responsável pela forja dos Anéis!
A série brinca com o espectador e vai deixando pistas sobre quem é o Senhor do Escuro. Logo de cara três nomes surgem como os principais suspeitos: Adar (por motivos óbvios), Halbrand (por motivos de lore) e o Estranho (que cai de carona em um meteoro formando o famoso olho sem pálpebra eternizado pela trilogia). E nessa somos lembrados da frase inicial: “Nada é mau no começo”!
No último episódio temos todas as respostas da melhor maneira possível! Sauron, Gandalf (e talvez alguns Maiar?) já dão as caras para não deixar dúvidas de que a série se encaminha para o final e fazer juz ao seu nome. Afinal, além de todos os anéis existe o Um para todos governar. E só pode existir um único Senhor dos Anéis, que todos sabem que será!
Os três
Promessa é dívida, e a produção a cumpriu com louvor! Desde o primeiro trailer, os criadores deixaram claro que veríamos a forja de algum anel, e fomos arrebatados com nada menos que a criação dos Três Anéis Élficos, considerados os mais poderosos entre todos os outros, depois do Um! Presenciar a criação de Nenya, Narya e Vilya, com as palavras doces e sábias de Sauron ao pé da orelha pontuda de Celebrimbor é uma das coisas mais espetaculares que eu já vi!
Agora com o véu das sombras caído, Galadriel bem que tentou peitar o nosso querido Halbrand, mas de nada adiantou. Precisando urgentemente salvar o seu povo, ela dá sinal verde para Celebrimbor colocar em prática as opiniões de Sauron sobre a forja dos Três e assim, com a ajuda de uma pequena pedra de Mithril, as ambições e objetivos do Senhor do Escuro são incrustadas nos anéis élficos!
Elrond, sábio desde o princípio, o arauto do conhecimento, também se deixa levar por esse imenso poder e entra na onda. Ou seja, Sauron mostrou a que veio sem precisar se esforçar. Oras, estamos falando do Istar mais poderoso de todos os tempos. Suas palavras, ações e aparências enganam a todos, deixando seu caminho livre para governar sentado em seu trono diretamente da recém criada Mordor!
A Perdição
Mesmo de longe, os planos de Sauron, encabeçado por um amargurado e vingativo Adar, seguem seu curso! Os pobres homens do sul já não têm mais esperanças e muitos decidem trocar de lado e se ajoelhar diante o poder do escuro! Destaque para Waldreg, o estereótipo do peasant chucro que vai se bandear para o lado mais forte, independente de quem estiver no comando. “All Hail Adar”! Maravilhoso!
Os orques (pelo amor de Eru, espero que os responsáveis pela tradução mudem isso logo), são peça chave nesses planos. Sendo a primeira leva de uma raça híbrida, e vivendo debaixo da terra por tantos anos, eles temem a luz do Sol e fazem os seus conchavos em cavernas e túneis arduamente escavados! Tudo planejado para o grande momento!
Waldreg (ele de novo) é o responsável por abrir as comportas da represa fazendo a água jorrar com força e velocidade para dentro dos túneis inundando tudo e levando a onda de morte para dentro de Orodruim! A futura Montanha da Perdição explode tal qual Pompeia e destrói tudo em seu caminho! E assim, com as cinzas cobrindo para sempre as Terras do Sul e velando a luz do Sol, os orcs, sob a liderança de Adar (mal sabe ele que Sauron está voltando) podem se despir de suas roupas e viver sob o manto negro de Mordor!
Na dúvida, siga o seu nariz
O alto orçamento da série é a prova de que dinheiro faz diferença! Jeff Bezos não economizou, abriu a mão sem medo! Ainda bem! A produção de Os Anéis de Poder é impecável. Figurino, maquiagem, cenários, o trabalho perfeito no sotaque de cada raça, bem como as línguas faladas por toda a Terra-Média, tudo está conforme foi idealizado por Tolkien!
Essa primeira temporada já está entre as minhas favoritas de todos os tempos. Se fosse para dividir em prateleiras, colocaria ela junto com a Trilogia do Peter Jackson e a série Band of Brothers (HBO). Mas, se for possível, em uma prateleira acima da primeira! Estou emocionado só de lembrar de algumas cenas. Poucas coisas me fazem chorar, uma delas foram os finais dos filmes, a outra foi a despedida de Nori diante de sua família para seguir ao lado de Gandalf em sua jornada em busca de respostas.
Ainda não me conformo em saber que a série não está no mesmo universo criado por Jackson! Os takes, os diálogos, as referências, a ambientação, os personagens… tudo é muito parecido! Mas não tem problema! Mesmo sem compartilhar o mesmo universo, com alguns erros de cronologia e personagens abaixo do nível estabelecido por Tolkien, Os Anéis de Poder é a obra que estava faltando! Que venha a 2ª Temporada!