CRÍTICA – GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 3
Se o Universo Cinematográfico da Marvel, o famoso MCU – em inglês – estava capengando por conta de produções mais preocupadas em atender as agendas atuais como Wakanda Forever, She-Hulk e Miss Marvel, James Gunn mostrou porque é tão bem quisto tanto na Marvel como na rival DC. Guardiões da Galáxia Vol. 3 é disparado o melhor filme do grupo e da atual fase da Marvel nos cinemas.
ATENÇÃO! SPOILERS DO FILME GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 3
Amigo dos animais
Fui ao cinema sabendo de uma coisa apenas: a história seria centrada em Rocket. Ao longo das duas horas e meia de muita ação e comédia – a já clássica pegada de James Gunn – somos levados para dentro das memórias de Rocket para entender porque o guaxinim mais carrancudo das galáxias se tornou o que é.
O filme todo é uma ode ao direito dos animais, mas nem por isso Gunn deixou de lado os maus tratos que os bichinhos sofrem. Obviamente uma crítica à muitas empresas que usam animais para testes, o filme não pega leve e mostra coelhos desmembrados, leões marinhos sem as patas, lontras robóticas e uma sorte de espécies que foram capturadas na Terra para o lunático Alto Evolucionário brincar de Deus e criar a sociedade perfeita.
Confesso que nos primeiros minutos nem me atentei para este fato. Estava mais interessado na pancadaria e nos diálogos pitorescos de Drax. Mas a cada volta ao passado de Rocket e sua amizade sincera com os outros animais enjaulados, fez este coração de gelo derreter. Não tem como não se emocionar com este filme. Tanto é que a PETA elegeu Guardiões da Galáxia Vol. 3 como o melhor filme sobre os direitos dos animais!
James Gunn na essência
Lógico que a digital de Gunn está em cada centímetro da trama. Afinal, além de dirigir, ele também é responsável pelo roteiro. Após tantos filmes fazendo às vezes de diretor e roteirista, Gunn trilha o seu caminho para ficar ao lado de lendas como Quentin Tarantino, Christopher Nolan e Orson Welles.
Tudo o que você espera de um filme de Gunn, você vai encontrar em Guardiões da Galáxia Vol. 3 e muito mais. Começando pela fantástica trilha sonora – ponto alto da trilogia – que mantém o longa sempre no caminho certo. Os primeiros acordes de Creep logo no início dão a tônica de despedida que fatalmente vai acontecer e ao mesmo tempo mostra que todos ali são “weirdos”, “creeps” e “specials”, cada um à sua maneira.
A gangue dos guardiões está mais unida do que nunca apesar das brigas entre eles. Mas família é isso. Uma hora estão todos brincando e se divertindo, na outra um quer pular no pescoço do outro. Mas com uma missão tão importante – salvar a vida de Rocket – não existem barreiras que atrapalhem essa família. E que família.
Nebula, Drax, Quill, Groot, Rocket, Mantis, Kraglin, Cosmo e até Gamora – sim, ela está de volta – fazem parte dessa família de esquisitões. Cada membro tem o seu papel e os atores e atrizes o fizeram com perfeição. Até Dave Bautista – que saiu diretamente das lutas livres – se mostrou competente na atuação em todos os momentos, sejam eles engraçados ou não. Mais uma vez, ponto para o diretor James Gunn.
Adam, o Warlock
Quando Will Poulter foi escalado para fazer o poderoso Adam Warlock, eu fiquei empolgado. Nos quadrinhos é ele que destrói Thanos durante a Guerra Infinita, rouba as Jóias e de quebra cria Magus, um dos vilões mais fodões da Marvel. Porém, nos Guardiões da Galáxia Vol. 3, Adam foi relegado a alívio cômico. Gostei do que vi, mas como sempre gostaria de ter visto mais.
Com descendência da raça dourada dos Soberanos, Warlock já havia dado “as caras” numa cena pós-créditos do segundo filme do grupo em 2017. Agora ele tem destaque, mas não é nem de longe o ser todo-poderoso dos quadrinhos. Uma pena que James Gunn deu adeus ao MCU para encabeçar o DCU. Infelizmente, não tem como saber o que Kevin Feige fará com o personagem.
Adeus emocionante
Como eu disse no início do texto, Guardiões da Galáxia Vol. 3 é recheado de pistas de que tudo está chegando ao fim. Isso já era sabido desde o começo e a saída de Gunn do MCU só corroborou o fato. E mesmo assim o tom de adeus é emocionante.
Apesar da sala estar vazia, consegui ouvir soluços e narizes escorrendo – principalmente o da minha esposa. Somente a morte do Tony Stark no final de Ultimato teve um apelo tão grande. Mas estamos falando de um personagem que abriu o MCU e era querido por todos. Os guardiões chegaram bem depois, o universo de Feige já estava estabelecido e, naquela época, indo muito bem, obrigado. Ou seja, ninguém deu muita importância para o grupo.
Mas ao longo dos anos e depois de três filmes solos – sem esquecer das participações com os Vingadores – a gangue galáctica caiu no gosto da crítica e do público com seus personagens “creeps”, imperfeitos, mas acima de tudo amigos fiéis.
Essa é a lição que o legado de Gunn deixa no MCU: não importa o que aconteça, verdadeiros amigos não abandonam o irmão na hora mais necessária. Tal qual Rocket indo ao resgate de todos os animais presos pelo Alto Evolucionário, o sacrifício é ínfimo se for para um bem maior.