REVIEW – LIKE A DRAGON: INFINITE WEALTH
Uma longa e satisfatória viagem. Essa frase resume o meu sentimento com o último jogo da franquia Yakuza. O game da SEGA possui todos os requisitos de um grande título, porém, essa mesma grandeza atrapalha e pode afastar jogadores mais casuais. Vamos ao Review de Like a Dragon: Infinite Wealth.
CUIDADO! O TEXTO CONTÉM ALGUNS SPOILERS DO JOGO!
Like a Dragon: Infinite Wealth é uma sequência direta de Yakuza: Like a Dragon (2020) e Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name (2023). Por isso, o último game da franquia explora as histórias de Ichiban Kasuga (protagonista de Yakuza) e Kazuma Kiryu (principal personagem da série). Dessa maneira, temos a oportunidade de ver o desenrolar da narrativa de Kiryu, que começou em 2005 quando o primeiro jogo foi lançado no PlayStation 2.
A franquia sempre se destacou por oferecer um mundo bastante real, cheio de humor e com uma infinidade de coisas para se fazer enquanto acompanhamos a narrativa. Outro ponto forte eram os combates. Tudo em tempo real e com uma pitada de estratégia. Like a Dragon: Infinite Wealth não deixa por menos. O jogo se passa tanto no Japão como no Havaí, ampliando ainda mais o escopo da franquia, além de manter o bom humor de sempre. Porém, o sistema de combate mudou drasticamente com a inclusão do sistema por turnos.
MUDANÇAS NEM TÃO NECESSÁRIAS
Sinceramente não entendi bem porque a SEGA optou pelo clássico combate por turnos. Enquanto RPGs de peso, como Final Fantasy, remodelaram os seus sistemas para um embate mais dinâmico – mas sem perder os elementos tradicionais – Like a Dragon: Infinite Wealth vai na contramão tirando as brigas em tempo real, um lance mais esmaga botões, para os turnos individuais.
Como eu estava acostumado com o estilo porrada livre, achei estranho. Entretanto, sou apaixonado pelos RPGs de turno e em pouco tempo já tinha me acostumado com o sistema. Além de oferecer mais opções de estratégia, é bem legal ver a plasticidade dos golpes e os efeitos visuais que eles proporcionam. Porém, com tantas horas de jogatina, após um tempo o sistema torna-se enfadonho.
Já pelo lado do mundo aberto, Like a Dragon: Infinite Wealth é o que tem de melhor. Tanto no Japão como no Havaí, existem centenas de lugares para visitar, pessoas para conversar, restaurantes para comer, lojas para comprar e fliperamas para jogar.
Aliás, os minigames sempre foram um destaque na série. Dessa vez é possível se esbaldar nas máquinas do SpikeOut, Sega Bass Fishing e Virtua Fighter 3tb. Este último, inclusive, foi lançado apenas para arcades e no finado Dreamcast em 1998. É muito fan-service.
Além dessa diversão para passar o tempo, Like a Dragon: Infinite Wealth possui uma Liga Sujimon (uma espécie de Pokémon às avessas) e a Ilha Dondoko, onde Kasuga faz às vezes de fazendeiro (uma mistura louca de Stardew Valley com combates em tempo real). Sério, Like a Dragon: Infinite Wealth tem tantas opções que é fácil se perder no meio da narrativa principal.
A BELEZA ESTÁ EM TODOS OS LUGARES
Logo de cara o que mais me impressionou em Like a Dragon: Infinite Wealth foram os gráficos. A SEGA acertou a mão e, mesmo sendo um título cross-gen, entrega um trabalho de altíssima qualidade. Todas as cenas pré-gravadas estão perfeitas, conseguimos enxergar até os poros nos rostos dos personagens, e durante a jogatina o padrão continua lá em cima.
As transições são tão suaves que apenas olhos treinados conseguem ver a diferença entre uma cena rodando em tempo real e uma gravada. Além disso, em diversos momentos, o estilo das animações mudam para contar as histórias dos personagens. Essa abordagem com uma pegada puxada para os animes casa bem com o estilo do jogo. Mas não se engane, são poucos os momentos assim, e na maioria das vezes o que vale é o visual realista.
Mesmo com um início mais contido, ainda no Japão, conseguimos perceber a entrega e o cuidado que a SEGA teve com os menores detalhes. Mas é chegando no Havaí que as coisas esquentam. As primeiras horas são um tutorial gigante onde aprendemos o novo sistema, conhecemos alguns personagens e descobrimos porque Ichiban Kasuga foi parar no arquipélago.
NOVELA JAPONESA
Toda a motivação de Kasuga gira em torno de uma mulher chamada Akane, na qual ele acredita ser sua mãe. Municiado apenas da informação de que ela foi vista no Havaí, Kasuga parte para a ilha com o objetivo de desvendar o mistério. Enquanto isso, Kazuma Kiryu, por ordem da facção Daidoji, já está em Honolulu também procurando por Akane. E quando os dois se encontram, a brincadeira começa de verdade.
Quem acompanha a série, sabe que já é de praxe os longos diálogos e histórias paralelas. Todo o início no Japão é basicamente isso: muita conversa e pouca ação. E até chegar no Havaí as coisas demoram para engatar. Kasuga, por exemplo, tem uma paixonite por uma das personagens e todo o arco inicial é focado nesse relacionamento. Sinceramente eu achei exagerado toda essa construção já que a conclusão só vem à tona no fim do jogo. Tirando alguns diálogos aleatórios, a relação entre os dois é estritamente profissional.
E mesmo com toda essa ênfase nos diálogos, me senti impelido a conhecer cada um dos personagens pelo simples fato do sistema de vínculos. Com o passar do tempo, essa verdadeira novela japonesa, vai ganhando camadas e mais camadas. E cada vez que você completa um vínculo – normalmente conversando bastante com os personagens – aumenta a afinidade entre eles e consequentemente aumenta também o poder físico e mágico de todos os envolvidos.
Além dos personagens principais, o mundo está abarrotado de histórias secundárias e missões aleatórias que aumentam ainda mais o drama das pessoas que vivem sob o medo da Yakuza e de facções que infestam o Havaí como os Barracudas – vagabundos que dominam as ruas – e a Ganzhe, a máfia chinesa. E todos eles estão de alguma forma envolvidos com o novelão de Kasuga e Kiryu.
O tempo todo somos lembrados da verdadeira missão de ambos, mas é só no trecho final do jogo que descobrimos a verdadeira história por trás da busca de Akane. E, apesar de grandiosa, acaba num clichê bem simples.
Kasuga descobre que o mais novo líder do Clã Seiryu é ninguém menos que o seu meio-irmão, Masataka Ebina, que, apesar de seus conluios com a Palekana – um grupo religioso com um líder metido a Messias com influência em todas as camadas da sociedade – não quer nada além de vingança contra o seu pai que abandonou sua mãe quando ele apenas um garoto. Ou seja, toda a trama construída de forma competente e grandiosa ao longo de mais de 50 horas de jogatina, foi para a vala do famigerado “problemas com o papai”
Mas como diz o velho deitado: o que importa é a jornada e não o destino.
UMA VIAGEM AGRADÁVEL
Dessa maneira, Like a Dragon: Infinite Wealth vale mais pela jornada do que pelo destino final. Em um dado momento o jogo fica dividido entre o grupo de Kasuga dando conta dos capangas no Havaí, enquanto Kiryu volta ao Japão para tratar um câncer de pulmão. Dessa forma conseguimos acompanhar o desfecho tão falado do principal personagem de toda a saga. Não entrarei em detalhes para não estragar as surpresas finais, mas posso dizer que o Dragão de Dojima é um dos protagonista mais fodas que já existiu nos games.
Dessa maneira as histórias de ambos os personagens são contadas sem haver confusão alguma. Kasuga e Kiryu possuem objetivos bem claros e um não atrapalha o outro. E poder jogar tanto em Yokohama como em Honolulu é excelente já que não ficamos empapuçados com apenas um cenário, uma história e um protagonista.
CONCLUSÃO
Mesmo com mais de 50 horas de jogatina, Like a Dragon: Infinite Wealth ainda tem muito a oferecer. O subtítulo faz juz ao nome, é realmente um jogo de riquezas infinitas. Quem quiser completar os 100% terá muitas e muitas horas de diversão. Para mim, entretanto, a conclusão da história principal foi o suficiente para me entreter com essa maravilha da SEGA. E mesmo assim deixarei o jogo instalado para quem sabe voltar e caminhar pelas ruas de Yokohama e Honolulu atrás da próxima surpresa.
A análise foi feita através de uma chave de acesso para o Xbox Series X fornecida pela SEGA!
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